segunda-feira, 1 de outubro de 2018
Rap Literatura – Resistência e Integração Latinoamericana...
Mano Zeu é natural de Foz do Iguaçu, Pr. Escritor e Dj (pesquisador de música negra) membro fundador da Biblioteca Comunitária e Jornal CNI (2011); dos coletivos de Hip-Hop Cartel do Rap (2.000), Frontera Hip-Hop (2010), Familia Zona Norte (2012), Coletivo No Hay Frontera (2015); dos estúdios Yo Comunitáriô (2005) e ECO Estudio Comunitário (2008); do selo editorial Capivara Preta (2017). Formado no 1º Curso de Agentes Culturais Populares na UFF - Rio de Janeiro (2009). Produtor dos Documentários: As Muitas Faces de Uma Cidade (2009), Semáforo en Rojo (2014), Un Circo Kamikaze (2017). Autor dos Livos: Amor Coletivo (2015), 27 Estações (2017), Contos que me Contam (2017), Cinquentinha (2018), Memórias Afetivas (2018).
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Foto: Adriana Fiuzza (II Jornada e XVIII Semana Acadêmica de Letras - Unioeste, Campus Cascavel).
Hermanos - Documentário (Foz do Iguaçu - 2015)
Documentário musical sobre o Estúdio Eco Comunitário, registra os bastidores da produção musical de artistas latino-americanos no Estúdio Eco "Comuna" na comunidade do Cidade Nova, em Foz do Iguaçu, Paraná, BR.
Com a participação de MC Jecke (Venezuela), Santiago Gonzales (Colômbia), Mano Zeu (Brasil), Johnny Le Majeste (Haiti).
Produção de Luís Damico (Venezuela) e Rafael Gomes (Brasil).
MANIFESTO DA ANTROPOFAGIA PERIFÉRICA (Sergio Vaz - São Paulo - 2007)
A Periferia nos une pelo amor, pela dor e pela cor.
Dos becos e vielas há de vir a voz que grita contra o silêncio que nos pune. Eis que surge das ladeiras um povo lindo e inteligente galopando contra o passado. A favor de um futuro limpo, para todos os brasileiros.
A favor de um subúrbio que clama por arte e cultura, e universidade para a diversidade. Agogôs e tamborins acompanhados de violinos, só depois da aula.
Contra a arte patrocinada pelos que corrompem a liberdade de opção. Contra a arte fabricada para destruir o senso crítico, a emoção e a sensibilidade que nasce da múltipla escolha.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
A favor do batuque da cozinha que nasce na cozinha e sinhá não quer. Da poesia periférica que brota na porta do bar.
Do teatro que não vem do “ter ou não ter...”. Do cinema real que transmite ilusão.
Das Artes Plásticas, que, de concreto, quer substituir os barracos de madeiras.
Da Dança que desafoga no lago dos cisnes.
Da Música que não embala os adormecidos.
Da Literatura das ruas despertando nas calçadas.
A Periferia unida, no centro de todas as coisas.
Contra o racismo, a intolerância e as injustiças sociais das quais a arte vigente não fala.
Contra o artista surdo-mudo e a letra que não fala.
É preciso sugar da arte um novo tipo de artista: o artista-cidadão. Aquele que na sua arte não revoluciona o mundo, mas também não compactua com a mediocridade que imbeciliza um povo desprovido de oportunidades. Um artista a serviço da comunidade, do país. Que armado da verdade, por si só exercita a revolução.
Contra a arte domingueira que defeca em nossa sala e nos hipnotiza no colo da poltrona.
Contra a barbárie que é a falta de bibliotecas, cinemas, museus, teatros e espaços para o acesso à produção cultural.Contra reis e rainhas do castelo globalizado e quadril avantajado.
Contra o capital que ignora o interior a favor do exterior.
Miami pra eles ? “Me ame pra nós!”.
Contra os carrascos e as vítimas do sistema.
Contra os covardes e eruditos de aquário.
Contra o artista serviçal escravo da vaidade.
Contra os vampiros das verbas públicas e arte privada.
A Arte que liberta não pode vir da mão que escraviza.
Por uma Periferia que nos une pelo amor, pela dor e pela cor.
É TUDO NOSSO!
(Sergio Vaz - Cooperifa)
MANIFESTO DA SEMANA DE ARTE MODERNA (São Paulo - 1922)
MANIFESTO DA POESIA PAU-BRASIL - Oswald de Andrade
A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
Toda a História bandeirante e a História comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos.
Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senagâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases. Negras de jóquei. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as seivas selvagens. O bacharel, Não podemos deixar de ser doutor. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.
A nunca exportação de poesia. A poesia ainda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária
. Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram. A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, crítica, dona-de-casa tratando de cozinha.
A poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem. Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo: o teatro de tese e a luta no palco entre morais e imorais. A tese ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus luris.
Ágil o teatro, rilho do saltimbanco. Ágil e ilógico. Ágil o romance nascido da invenção. Ágil a poesia.
A Poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança. Uma sugestão de Blaise Cendrars: – Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao Vosso destino.
Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias.
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica.
A contribuição milionária de todos os erros.
Como falamos. como somos.
Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.
Uma única luta: – a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.
Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não fosse lã mesmo não prestava. A interpretação do dicionário oral das Escolas de Belas-Artes queria dizer reproduzir igualzinho … Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica, E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genealidade de olho virado – o artista fotógrafo.
Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de pastas. A playela. E a ironia eslava compôs para a Playela. Stravinski.
A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.
Só não se inventou uma máquina de fazer verso – já havia o poeta parnasiano.
Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases: – a deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne a Mallarmé, Rodin e Debussy até agora; 2ª o lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.
O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.
Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatos destrutivos.
A síntese.
O equilíbrio.
O acabamento de carrosserie.
A invenção.
Uma nova perspectiva.
Uma nova escala.
Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil.
O trabalho contra o detalhe naturalista – pela “síntese” contra a morbidez romântica pelo “equilíbrio” geômetra e pelo acabamento” técnicos; contra a cópia, pela “invenção” e pela “surpresa”.
Uma nova perspectiva:
A outra, a de Paolo Ucello, criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão ótica. Os objetos distantes não diminuíram. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência.
Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.
Uma nova escala.
A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O reclame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da aviação. Postes, Gasômetros, Rails. Laboratórios e oficinas técnicas.
Vozes e tiques de fios e ondas de fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.
A reação contra o assunto invasor, diversos da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de idéias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido.
Nossa época anuncia a volta ao “sentido puro”. Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.
A poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de “dorme nenê que o bicho vem pegá” e de equações.
Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.
Obuses de elevadores, cubos de arranha-céu e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabia. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar.
Pau-Brasil.
O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.
Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.
O estado de inocência substituindo o estado de graça que pode ser uma atitude do espírito.
O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.
A reação contra todas as indigestões de sabedoria.
O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.
Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística.
Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem antologia.
Bárbaros crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.
A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos verdes da favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. O Carnaval no Rio é o acontecimento religioso da raça pau-Brasil. Wagner submerge ante os cordões de Botafogo. Bárbaro e nosso. A formação étnica rica. Riqueza vegetal. O minério. A cozinha. O vatapá, o ouro e a dança.
Toda a História bandeirante e a História comercial do Brasil. O lado doutor, o lado citações, o lado autores conhecidos.
Comovente. Rui Barbosa: uma cartola na Senagâmbia. Tudo revertendo em riqueza. A riqueza dos bailes e das frases. Negras de jóquei. Odaliscas no Catumbi. Falar difícil.
O lado doutor. Fatalidade do primeiro branco aportado e dominando politicamente as seivas selvagens. O bacharel, Não podemos deixar de ser doutor. Doutores. País de dores anônimas, de doutores anônimos. O império foi assim. Eruditamos tudo. Esquecemos o gavião de penacho.
A nunca exportação de poesia. A poesia ainda oculta nos cipós maliciosos da sabedoria. Nas lianas da saudade universitária
. Mas houve um estouro nos aprendimentos. Os homens que sabiam tudo se deformaram como borrachas sopradas. Rebentaram. A volta à especialização. Filósofos fazendo filosofia, críticos, crítica, dona-de-casa tratando de cozinha.
A poesia para os poetas. Alegria dos que não sabem e descobrem. Tinha havido a inversão de tudo, a invasão de tudo: o teatro de tese e a luta no palco entre morais e imorais. A tese ser decidida em guerra de sociólogos, de homens de lei, gordos e dourados como Corpus luris.
Ágil o teatro, rilho do saltimbanco. Ágil e ilógico. Ágil o romance nascido da invenção. Ágil a poesia.
A Poesia Pau-Brasil. Ágil e cândida. Como uma criança. Uma sugestão de Blaise Cendrars: – Tendes as locomotivas cheias, ides partir. Um negro gira a manivela do desvio rotativo em que estais. O menor descuido vos fará partir na direção oposta ao Vosso destino.
Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. Engenheiros em vez de jurisconsultos, perdidos como chineses na genealogia das idéias.
A língua sem arcaísmos, sem erudição. Natural e neológica.
A contribuição milionária de todos os erros.
Como falamos. como somos.
Não há luta na terra de vocações acadêmicas. Há só fardas. Os futuristas e os outros.
Uma única luta: – a luta pelo caminho. Dividamos: Poesia de importação. E a Poesia Pau-Brasil, de exportação.
Houve um fenômeno de democratização estética nas cinco partes sábias do mundo. Instituíra-se o naturalismo. Copiar. Quadro de carneiros que não fosse lã mesmo não prestava. A interpretação do dicionário oral das Escolas de Belas-Artes queria dizer reproduzir igualzinho … Veio a pirogravura. As meninas de todos os lares ficaram artistas. Apareceu a máquina fotográfica, E com todas as prerrogativas do cabelo grande, da caspa e da misteriosa genealidade de olho virado – o artista fotógrafo.
Na música, o piano invadiu as saletas nuas, de folhinha na parede. Todas as meninas ficaram pianistas. Surgiu o piano de manivela, o piano de pastas. A playela. E a ironia eslava compôs para a Playela. Stravinski.
A estatuária andou atrás. As procissões saíram novinhas das fábricas.
Só não se inventou uma máquina de fazer verso – já havia o poeta parnasiano.
Ora, a revolução indicou apenas que a arte voltava para as elites. E as elites começaram desmanchando. Duas fases: – a deformação através do impressionismo, a fragmentação, o caos voluntário. De Cézanne a Mallarmé, Rodin e Debussy até agora; 2ª o lirismo, a apresentação no templo, os materiais, a inocência construtiva.
O Brasil profiteur. O Brasil doutor. E a coincidência da primeira construção brasileira no movimento de reconstrução geral. Poesia Pau-Brasil.
Como a época é miraculosa, as leis nasceram do próprio rotamento dinâmico dos fatos destrutivos.
A síntese.
O equilíbrio.
O acabamento de carrosserie.
A invenção.
Uma nova perspectiva.
Uma nova escala.
Qualquer esforço natural nesse sentido será bom. Poesia Pau-Brasil.
O trabalho contra o detalhe naturalista – pela “síntese” contra a morbidez romântica pelo “equilíbrio” geômetra e pelo acabamento” técnicos; contra a cópia, pela “invenção” e pela “surpresa”.
Uma nova perspectiva:
A outra, a de Paolo Ucello, criou o naturalismo de apogeu. Era uma ilusão ótica. Os objetos distantes não diminuíram. Era uma lei de aparência. Ora, o momento é de reação à aparência.
Reação à cópia. Substituir a perspectiva visual e naturalista por uma perspectiva de outra ordem: sentimental, intelectual, irônica, ingênua.
Uma nova escala.
A outra, a de um mundo proporcionado e catalogado com letras nos livros, crianças nos colos. O reclame produzindo letras maiores que torres. E as novas formas da indústria, da aviação. Postes, Gasômetros, Rails. Laboratórios e oficinas técnicas.
Vozes e tiques de fios e ondas de fulgurações. Estrelas familiarizadas com negativos fotográficos. O correspondente da surpresa física em arte.
A reação contra o assunto invasor, diversos da finalidade. A peça de tese era um arranjo monstruoso. O romance de idéias, uma mistura. O quadro histórico, uma aberração. A escultura eloquente, um pavor sem sentido.
Nossa época anuncia a volta ao “sentido puro”. Um quadro são linhas e cores. A estatuária são volumes sob a luz.
A poesia Pau-Brasil é uma sala de jantar domingueira, com passarinhos cantando na mata resumida das gaiolas, um sujeito magro compondo uma valsa para flauta e a Maricota lendo o jornal. No jornal anda todo o presente.
Nenhuma fórmula para a contemporânea expressão do mundo. Ver com olhos livres.
Temos a base dupla e presente – a floresta e a escola. A raça crédula e dualista e a geometria, a álgebra e a química logo depois da mamadeira e do chá de erva-doce. Um misto de “dorme nenê que o bicho vem pegá” e de equações.
Uma visão que bata nos cilindros dos moinhos, nas turbinas elétricas, nas usinas produtoras, nas questões cambiais, sem perder de vista o Museu Nacional. Pau-Brasil.
Obuses de elevadores, cubos de arranha-céu e a sábia preguiça solar. A reza. O Carnaval. A energia íntima. O sabia. A hospitalidade um pouco sensual, amorosa. A saudade dos pajés e os campos de aviação militar.
Pau-Brasil.
O trabalho da geração futurista foi ciclópico. Acertar o relógio império da literatura nacional.
Realizada essa etapa, o problema é outro. Ser regional e puro em sua época.
O estado de inocência substituindo o estado de graça que pode ser uma atitude do espírito.
O contrapeso da originalidade nativa para inutilizar a adesão acadêmica.
A reação contra todas as indigestões de sabedoria.
O melhor de nossa tradição lírica. O melhor de nossa demonstração moderna.
Apenas brasileiros de nossa época. O necessário de química, de mecânica, de economia e de balística.
Tudo digerido. Sem meeting cultural. Práticos. Experimentais. Poetas. Sem reminiscências livrescas. Sem comparações de apoio. Sem pesquisa etimológica. Sem antologia.
Bárbaros crédulos, pitorescos e meigos. Leitores de jornais. Pau-Brasil. A floresta e a escola. O Museu Nacional. A cozinha, o minério e a dança. A vegetação. Pau-Brasil.
Manifestação da Literatura Divergente ou Manifesto Encruzilhador de Caminhos - Nelson Maca (Bahia - 2012)
A elaboração do texto final deste manifesto reflete a leitura crítica de algumas pessoas muito queridas minhas, a quem destaco e agradeço imensamente. Almas e mentes atentas que me permitiram uma troca incrível de idéias, fazendo-me repensar cada item aqui apresentado, seja revendo conceitos, reescrevendo frases, relativizando argumentos ou fortalecendo meus pontos de vista e expressões primeiras. Falo do saudoso e inesquecível Marco Aurélio Barreto; do sempre presente e questionador Robson Veio; do provocador e grande entusiasta das letras nas encruzas Henrique Freitas; da atenta e incentivadora Adriana Facina; da leitora generosa e implacável Silvia Lorenso; da parceira ao lado, companheira de vida, co-autora de minhas duas filhas e, enfim, “tesoura” implacável de meus excessos retóricos (todos), Ana Cristina Pereira. Aproveito para agradecer também, pelas trocas de idéias sobre Literatura Divergente, a dois parceiros que aprendi a ser cúmplice em tudo que penso e faço: GOG e Silvio Roberto.
Laroyê!
Thank You, EXU!
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– Por serem divergentes, as possíveis discordâncias das concepções de base fortalecerão as convicções desta manifestação e serão a prova real da diversidade descentrada que determina o dinamismo das literaturas.
– Porém, uma constatação a tempo: apesar de minhas reflexões situarem-se no campo prático das literaturas, ao reler inúmeras vezes esta manifestação escrita, certa ampliação se impôs como possibilidade fecunda. Na verdade, em quase todos os lugares onde eu escrevo Literatura em sentido genérico, ou mesmo pontual, poderia ter grafado Arte. Com uma pitada de relativismo, acho que, até o final do texto, vocês me entenderão. E aqueles que acharem aqui algum nó de diálogo ou dobra de perspectiva crítica poderão levar minha escrita para debates em campo de linguagens não vislumbradas a priori.
– Enquanto os manifestos, justificativas e fundamentações teóricas das variadas literaturas – comumente – refletem, fundam ou postulam um programa estético, essa Manifestação da Literatura Divergente, primordialmente, quer se aproximar do desejo íntimo de postura crítica de seu agente, o autor divergente – que antecede seu texto propriamente dito – e de sua respectiva textualidade, a Literatura Convergente.
– Muitos pedirão para que se ilustre esta demanda. Ou seja, para que eu exemplifique o debate com um elenco inconteste de autores e obras que formatariam um painel ilustrativo da Literatura Divergente, como condição prévia da legitimidade do conceito aqui proposto. Não partir de uma estética já posta, como afirmei acima, para esses perguntantes, poderá representar a “natimorte” das intenções teórico-filosóficas que se seguem.
– Mas, na moral mesmo, gostaria de dizer bem alto e claro que este escrito pretensioso quer soar mais como um release do que uma resenha. Ao invés de fazer um inventário retrospecto do que já foi ou ainda está, quer pensar uma história prospectiva, promovendo um convite ao que pode ser. Devir!
– A fecundação e gestação da Literatura Divergente é a prova confessa, sem sombra de dúvida, de uma divergência subjetiva de base que antecede o nascimento da linguagem enquanto concretude, ou seja, texto – gênero ou forma. Ou então Literatura Convergente.
– A cristalização final do texto da Literatura Divergente é um eterno porvir! Circunstancialmente, no entanto, sua fixação existe. Vamos então denominá-la objetivamente: trata-se do que já estamos chamando aqui Literatura Convergente.
– Como no rito do candomblé se chama o Orixá pelo conjunto primordial da fusão em convivência não hierárquica do texto verbal de seus cavalos, do ritmo do trio de atabaques (Rum, Rumpi e Le) e da gestualidade dançante do corpo negro – pare que ele se presentifique no barracão da cerimônia – também a “manifestação” da Literatura Divergente exige a ritualização a partir da convivência desierarquizada de seus elementos primordiais. Então, se manifestar literariamente de maneira livre supõe um transe fundador que permita a incorporação de suas potencialidades latentes.
E essas potencialidades pulverizam a centralidade das tradições oficializadas que privilegiam a escrita como a razão de ser da literatura. Vale, então, dizer, logo, que a escrita, em si e somente, não dá conta das possibilidades do fazer literário divergente. O primeiro e grande passo da Literatura Divergente é a reintrodução categórica da oralidade e outros “desvios de conduta” como elementos prenhes de potencialidades criadoras na literatura.
Mesmo relevando-se a oralidade como valor fecundo na elaboração da textualidade divergente, o binômio escrita-oralidade ainda não encerra as possibilidades híbridas da Literatura Divergente. Um sincretismo de base deve estabelecer seu lastro de possibilidades. O entrecruzamento é o lugar volátil a que almeja a textualidade da Literatura Divergente. A modalidade escrita e a oral podem tanto caminhar lado a lado como estabelecer uma cumplicidade criativa-expressiva com outras sonoridades, musicalidades, plasticidades, corporalidades, gestualidades…
A obra literária em divergência dos cânones admite igualmente a incorporação de toda uma gama de possibilidades visuais e eletro-eletrônicas na sua formatação, promovendo, inclusive, o trânsito do desejo de imutabilidade tradicional para uma transitoriedade ou mesmo efemeridade ao gosto contemporâneo. O hibridismo, a efemeridade e a transitoriedade admitidos na Literatura Divergente deslocam o texto da superfície “inquestionável” da letra na página para variados registros e suportes, incluindo a instalação e a performance.
– Mas o que chamo de Literatura Divergente antecede o surgimento do conjunto de procedimentos e traços que a conformaria e delimitaria formalmente, embora devam existir em seu momento definidor, mas que não deixam de divergir de “verdades” mais amplas, julgadas “universais” pelos principais interessados. Refiro-me ao fato de que, voluntariamente, a razão de ser da postura literária divergente é o desvio dos cânones circunstanciais e conjunturais pré-estabelecidos e que se arrogam uma verdade universal com disfarces de naturalidade.
– A expressão Literatura Divergente não pretende, de maneira simples e de superfície, conceituar academicamente uma estética, embora esta seja uma conseqüência direta desta manifestação pelo simples fato de seu manifestante transitar simetricamente entre a casa e a rua, ou ainda, entre o universal e o particular. Vale atentar para o fato de o conceito Literatura Divergente que persigo aqui tratar da orientação não de uma, mas de múltiplas textualidades, fundadas em posturas que assumem o conflito como fim, desprezando, no seu eterno porvir, a comodidade cristalizadora da busca de síntese.
– A Literatura Divergente, no momento imediato de sua conformação enquanto linguagem (Literatura Convergente), não almeja ocupar um centro hegemônico qualquer, mas sim desrespeitá-lo. O descentramento do centro – paralelamente à desmarginalização da margem – é a substância de combustão que a impulsiona. Até o limite do estabelecimento da linguagem, pois a forma lhe nega na mesma velocidade e proporção em que avança em sua permanência. Na mesma medida em que se cristaliza, converge para uma comunidade determinada por semelhanças, ou seja, compõem um sistema literário partilhado e agregador.
– Muitas intenções estéticas e ideológicas “territoriais” desviantes em si cabem no frasco de rótulo Literatura Divergente: Homo erotismo, Negritude, Feminismo e outras orientações que têm se baseado num ideário que, mais cedo ou mais tarde, pode tender, pretender ou até mesmo se tornar paradigma central e transversal de sistemas literários em universos particulares (diferenças) em conflito com os universos globais (modelos).
A Literatura Divergente, quando materializada nesse conjunto de idéias e/ou numa estética definida, é chamada aqui Literatura Convergente, e, assim, como tudo na experiência cultural da humanidade, essas idéias e procedimentos podem se tornar paradigmas; e suas obras fundar e/ou compor cânones. Mas a divergência (que é essencialmente potência) sempre migra, se estabelecendo em outras plagas, reinaugurando novas tensões e promovendo novos enfrentamentos, inclusive internos.
– A convergência pode sucumbir, por ser matéria; a divergência não sucumbe, por ser potência.
– A tendência das Literaturas Convergentes, que se encaminham para o estabelecimento e canonização, também podem orientar condutas, estabelecer modelos, fundar escolas e muito mais. Claro que não há, fundamentalmente, algum mal nisso. Apenas o abandono do “essencial” da potência da divergência (que, como eu já disse, sempre migra); e a tendência à afirmação coletiva da convergência.
– As denominadas posturas marginais da literatura são essencialmente Literatura Divergente, mas a “Literatura Marginal” pode deixar de ser Literatura Divergente.
– O desejo de textualidades negras são essencialmente Literatura Divergente, mas a Literatura Divergente pode não ser a “Literatura Negra” estabelecida.
– A fundação de uma condições literárias femininas são essencialmente Literatura Divergente, mas a Literatura Divergente pode não ser a “Literatura Feminina” consagrada.
– Assim sucessivamente…
– Logo, a Literatura Divergente não age no sentido de diluir, apagar, invisibilizar, negar, e nem mesmo nivelar as especificidades dos discursos pontuais: convergentes.
– O Conceito Literatura Divergente que defendo é minha tentativa de dar conta metodológica e discursiva a uma lógica que admite a disparidade. Seu maior fundamento, paradoxalmente, é nunca fixar leis e sempre desobedecer às cristalizações.
– O fato de um escritor nomear sua própria obra de Literatura Negra, por exemplo, não o impede de circunstancialmente ter pertencido ao conjunto heterogêneo das intenções gestadas no útero fecundo da Literatura Divergente.
– Assim sucessivamente…
– A Literatura chamada aqui de divergente não é resultado da imposição de nenhuma hierarquia de poder, mas fruto de uma escolha direta e consciente do escritor.
– A definição e orientação da Literatura Divergente podem estar manifestas fora ou dentro do espaço significante da textualidade desde que defina condutas desviantes individuais ou coletivas.
– Então os elementos determinantes da Literatura Divergente podem centrar-se nos seres históricos e/ou nas suas expressões. Nas conjunturas ou na textualidades. Localizadas e datadas ou indefinidas e atemporais.
– Querer fazer literatura, mesmo carregando um corpo físico oriundo dos bolsões de miséria e pouco letramento oficial e normativo, é um desejo social potencialmente divergente!
– Abordar a invisibilidade, a anulação, o castramento e a morte pela percepção e expressão do condenado em vida, pela cegueira social, pela diluição da diferença, pelo impotência do gênero ou pelo extermínio físico é divergir das estratégias literárias consagradas historicamente “de fora pra dentro e cima para baixo”.
– O que a Literatura Divergente quer não é, exatamente, diluir fronteiras. Muito menos – como já me disseram por aí, mesmo antes de minha formulação conceitual inaugurada aqui – ser mais um complicador de uma demanda já complicada que é a definição de conceitos que dêem conta metodológica dos fazeres literários que surgem justamente do desejo de desvio das tradições universalizadas de cima para baixo. As obras literárias desviantes dos cânones oficiais – como pensam e defendem por aí – não nascem e se desenvolvem como flores do campo cuja beleza prescinde da ordenação legitimadora da cultura e sua função desconhece a ideologia dos jardins.
– A consciência de si e de sua linguagem são também elementos definidores da condição estética da arte e da postura libertadora do artista.
– Por ser divergente, sinceramente, o objetivo central dessa manifestação, pasmem!, é dialogar com as mentes literárias divergentes, e não com os críticos, meta-críticos, meta-meta-críticos… amigos, editores, mecenas, protetores, sócios, capitalistas e ongueiros… nem com os escritores meta-metidos! Todos leões fiéis a guardar a “lei da escrita e de sua permanência” que, segundo eles, estabelece a “textura de excelência e o para sempre” dos clássicos pelos seus méritos desde Homero.
– Repito: não entendo o conceito Literatura Divergente como complicador. Também aqui podemos separar o ouro da areia drenados do mesmo córrego. Não para sublimar um em detrimento do outro, mas para esculpir as jóias para o conforto subjetivo da alma; e edificar paredes para a proteção da concretude do corpo.
– Compreender – com rapidez e superficialidade – o conceito Literatura Divergente como simples redundância de conceitos já em voga (como Literatura Marginal, Literatura Periférica, Literatura Maldita, Literatura Proscrita, Literatura Maloquerista, Litera-Rua…) implica na mesma simplificação redutora e enganadora da afirmação que o conceito Ser-Humano é pura redundância dos conceitos Negro, Branco, Índio, Oriental, Ocidental, etc.
– Muita retórica e pouco esclarecimento! Muita ideologia e pouca historicidade! Muito mais dissimulação ainda!
– Todos são humanos! Não é assim que dizem? Uma verdade incontestável! Mas… são todos Negros? Índios? Ocidentais? Orientais?
– A quem será que interessam os valores e verdades universais?
– A quem será que interessam os valores e verdades particulares?
– Vale a pena concluir o óbvio mais uma vez: todos são igualmente humanos, mas nem todos os humanos são exatamente iguais!
– Tudo muito simples: é preciso determinar o que contém e o que está contido. Ou ainda: o que diverge de que, e o que converge com que!
– Na Literatura Divergente cabem as gêneses de todas as Literaturas Convergentes; enquanto na Literatura Convergente não cabe toda a Literatura Divergente, porque esta é infinita nas possibilidades e incontável nas renovações.
– Literatura Convergente, ainda conforme o uso feito aqui, são as literaturas que se estabelecem em torno de “paradigmas particulares estigmatizados”, porém que não estão alinhadas em acordo com os “paradigmas particulares oficializados” e pretensamente universais. Isto é o que se costumou a chamar de literatura acadêmica, literatura nacional, literatura estadual, literatura municipal, ou então, genericamente, literatura canônica.
– Vê-se acima que também o “universal”, “modelo” imposto verticalmente, sofre recortes e mais recortes que os individualiza na economia das trocas simbólicas.
– Repetindo: a literatura canônica se dá quando seus manifestos, justificativas e fundamentações teóricas fundam-se, comumente, ou postulam um programa estético, e, primordialmente, seus adeptos, escritores e teóricos, identificam-se com os tais universais.
– Assim considera, a divergência situa-se nas contra ideologias, porém sem, potencialmente, consagrar-se como síntese, o que pode ocorrer com a estética da Literatura Convergente!
– As Literaturas Convergentes assim estão denominadas aqui porque convergem para um plano ideológico e/ou estético, como já foi dito. Muita lábia tem se gastado dentro e fora da academia, perto e longe da quebrada, na tentativa de se estabelecer os limites, aproximações e distanciamentos entre essas convergências. Muita política, muita economia, muita tabela de cossenos e muita malandragem se infiltram nesse “meu pirão primeiro”. Mas um de seus fatores vitais ainda não foi desdobrado: em que consiste essas estéticas formalmente falando?
– Quem vai se debruçar sobre os textos, agora que já localizamos a região, o endereço, a origem social, o sonho, o delito, a etnia, a raça, o gênero e a orientação sexual dos escritores(as)?
– Quem vai mostrar que, mesmo internos nessas categorias distintas, e mesmo quando não modelares, pode persistir nos seus agentes um sonho de sucesso acadêmico, comercial, cultural, político, amoroso, ainda pautados pelos modelos de sucesso canônicos?
– Quem vai encarar esse modelo de mercado simbólico onde, a depender da oferta e da procura, cada categoria tem seu valor superdimensionado – e essencializado – em detrimento do valor do outro – e do seu respectivo rebaixamento?
– Quem vai ouvir a voz central e transversal da divergência – um universal em contradição com os universais predominantes – única em sua beleza feita de fragmentos oriundos da urgência vital das estéticas convergentes?
– As Literaturas Convergentes podem se agrupar em torno da Raça, do Gênero, da Classe, da Religião, da Sexualidade, e por aí afora… Também podem redefinir o uso da língua, a apropriação de imagens, enumeração de ritmos, variação de metros, seleção de sonoridades e freqüências. Além de veiculação diferenciada de idéias, valores, intenções, suportes e posturas.
– As Literaturas Convergentes podem tanto desobedecer a modelos no interior das linguagens escritas como desrespeitar fronteiras, fundindo-as com a fala, a prosa, o canto, a mímica, a dança, a pintura – e o que mais for – em hibridismo fundadores.
– As Literaturas Convergentes, cada qual de seu modo, divergem dos modelos canônicos universais que geralmente são impostos – na busca de perpetuação – pela cultura oficial. Sempre na perspectiva cultural, de classe, de raça e de gênero de grupos e elementos universalizados pelo jogo dos poderes!
– Fazer Literatura Feminina é convergir rumo ao sentido das demandas do gênero feminino; e divergir da centralidade violenta de um mundo masculinizado.
– Fazer Literatura Indígena é convergir no sentido das demandas étnicas particulares; e divergir da centralidade violenta de uma concepção de mundo euro-centrada.
– Assim sucessivamente…
– A Literatura Divergente não formata um movimento centrado e monolítico. Ao contrário, permite um conjunto de blocos autônomos que se estabelecem e permanecem numa conjuntura de descentramentos, repelindo qualquer tendência universalista.
– Arquipélagos que, vez ou outra, se chocam, se fragmentam, redividem, se afundam ou se fundem. É essa a metáfora paisagística possível, para se visualizar a beleza da Literatura Divergente e seus operadores concretos complementares: as Literaturas Convergentes.
– Na minha verdade, vejo que a Literatura Divergente é responsável pela pulsão íntima que engendra a textura das obras da Literatura Convergente. Porém, dado seu sopro de vida, ainda no limite da linguagem, retoma de sua condição abstrata essencial.
– Ser um Ser da Literatura Divergente, então, no sentido metafísico, é ser potencialmente refratário às catalogações universalistas oficializadoras; no sentido político, é estar apto a tematizar valores e conteúdos de maneira a tensionar as “harmonias” estatebelecidas pela centralização de tradições particulares; no sentido físico, é praticar uma estética que permita traições à modalidade escrita, recuperação da oralidade e promoção de hibridismos que desrecalquem as diversidades soterradas e inaugurem formas de expressão.
– Por isso mesmo, a Literatura Divergente é um instrumento circunstancial de luta para distinção e respectiva afirmação das diferenças – subjetivas e materiais – que parte de uma potência partilhada (divergência) e se consagra numa estética particular (convergência). Logo sua conformação estética e sua conseqüente aderência a um coletivo social (Literatura Convergente) não representam uma contradição, senão o sentido último do desejo de expressão de pertencimento e cidadania diferenciada que moveu a obra e seu agente em direção à prática de uma literatura transgressora, descolonizadora, experimental e prospectiva.
– A dialética racional da síntese como reciclagem não dá conta do fenômeno da Literatura Divergente, pois suas cristalizações são cubos de gelo uniformizados nas possibilidades de solidificação e liquefação, aparentemente imperceptíveis, mas de metabolismos diferenciados.
– A Literatura Divergente ensaia no palco do conflito! A pulsão de enfrentamento é sua morada!
– Muito fala e reencena a balança eterna dos movimentos literários. Esse discurso se estabelece sobre as práticas que, ao longo dos tempos, revezam-se no topo da pirâmide das “particularidades universalizadas”. Ora se sustenta na base épica, clássica; ora se sustenta no solo lírico, romântico. Assim nos apresentam a linha histórica da literatura “universal”: uma gangorra binária atrofiada para além do par mínimo que lhe define historicamente. Mas, como disseram – e eu acredito – que a realidade é sempre um ponto de vista, esse binarismo tem se distorcido diante de nossos olhos entortados pela divergência.
– Bem de perto, os cristais perdem a verdade de sua inteireza quando vistos de forma que se permita a observação de sua independência atômica; elementos microscópicos independentes, isolados e em constante movimento. Visto bem de longe, a olho nu, o avião parece parado no ar!
– A Literatura Divergente sempre existiu, assim como os excessos e as insuficiências do olhar.
– O que se pretende aqui não é persuadir (pois já disse que falo primordialmente às mentes divergentes), mas celebrar a ousadia e o empenho dos que, conscientemente, pautam sua poética – de auto compreensão e auto representação – na possibilidade do desalinho construtivo, ou, se preferirem, na lógica disforme da ruptura, do hibridismo e da simultaneidade, amortecendo os choques bruscos das tradições culturais monolíticas.
– Ou então, digamos, simplesmente, que a Literatura Divergente é um “querer ser” que habita as Encruzilhadas. Sua função de fazer o Movimento e estabelecer a Comunicação dos divergentes faz com que ela manifeste sua potencialidade no corpo físico de seus cavalos mais diletos: as Literaturas Convergentes.
– Assim se estabelece a analogia que nos faltava até aqui: nosso EXU Divergente não aceita em seu padê as confluências acomodadoras da dialética (mesmo invertida, revertida ou relativizada), apenas e simplesmente porque sua morada única é a dispersão paradoxal que só se encontra na tensão da Encruzilhada.
– Enfim, o que faço concretamente aqui é o elogio da divergência, da possibilidade de se seguir caminhos próprios, mesmo que perigosos em sua independência altiva.
– Uma constatação ego-centrada: o que faço nos meus cadernos sujos é também Literatura Negra, viu! Minha convergência se dá com meus pares na linha direta da Negritude. Mas não penso que todas as convergências se irmanam à minha, tá!
– É daquele jeito: convirja lá que eu convirjo cá, mesmo que a divergência nos convirja em alguma linha conceitual qualquer (à nossa revelia)!
Bahia Preta / Setembro de 2012
*Nelson Maca / Poeta Exu Encruzilhador de Caminhos
Estética da Fome - Manifesto de Glauber Rocha - Cinema Novo (Rio de Janeiro - 1965)
Estética da Fome - Manifesto de Glauber Rocha
(..) Enquanto a América Latina lamenta suas misérias gerais,o interlocutor estrangeiro cultiva o sabor dessa miséria, não como sintoma trágico, mas apenas como dado formal em seu campo de interesse. Nem o latino comunica sua verdadeira miséria ao homem civilizado nem o homem civilizado compreende verdadeiramente a miséria do latino. (..)
Para o observador europeu, os processos de produção artística do mundo subdesenvolvido só o interessam na medida que satisfazem sua nostalgia do primitivismo; e se primitivismo se apresenta híbrido, disfarçado sob tardias heranças do mundo civilizado, mal compreendidas porque impostas pelo condicionamento colonialista.
A América Latina permanece colônia e o que diferencia o colonialismo de ontem do atual é apenas a forma mais aprimorada do colonizador: e além dos colonizadores de fato, as formas sutis daqueles que também sobre nós armam futuros botes. (...)
Este condicionamento econômico e político nos levou ao raquitismo filosófico e à impotência, que, às vezes inconsciente, às vezes não, geram no primeiro caso a esterilidade e no segundo a histeria.
A esterilidade: aquelas obras encontradas fartamente em nossas artes, onde o autor se castra em exercícios formais que, todavia, não atingem a plena possessão de suas formas. O sonho frustrado da universalização: artistas que não despertam do ideal estético adolescente. (...)
A histeria: um capítulo mais complexo. A indignação social provoca discursos flamejantes. O primeiro sintoma é o anarquismo que marca a poesia jovem até hoje (e a pintura). O segundo é uma redução política da arte que faz má política por excesso de sectarismo. O terceiro, e mais eficaz, é a procura de uma sistematização para a arte popular. (..) Mais uma vez o paternalismo é o método de compreensão para uma linguagem de lágrimas ou de mudo sofrimento.
A fome latina, por isso, não é somente um sintoma alarmante: é o nervo de sua própria sociedade. Aí reside a trágica originalidade do cinema novo diante do cinema mundial: nossa originalidade é nossa fome e nossa maior miséria é que esta fome, sendo sentida, não é compreendida.
De Aruanda a Vidas secas, o cinema novo narrou, descreveu, poetizou, discursou, analisou, excitou os temas da fome: personagens comendo terra, personagens comendo raízes, personagens roubando para comer, personagens matando para comer, personagens sujas, feias, descarnadas, morando em casas sujas, feias, escuras; foi esta galeria de famintos que identificou o cinema novo com o miserabilismo tão condenado pelo Governo, pela crítica a serviço dos interesses antinacionais, pelos produtores e pelo público – este último não suportando as imagens da própria miséria. (...)Estes são os filmes que se opõem à fome, como se, na estufa e nos apartamentos de luxo, os cineastas pudessem esconder a miséria moral de uma burguesia indefinida e frágil ou se mesmo os próprios materiais técnicos e cenográficos pudessem esconder a fome que está enraizada na própria incivilização. (..)
Nós compreendemos esta fome que o europeu e o brasileiro na maioria não entende. Para o europeu é um estranho surrealismo tropical. Para o brasileiro é uma vergonha nacional. Ele não come mas tem vergonha de dizer isto; e, sobretudo, não sabe de onde vem esta fome. Sabemos nós – que fizemos filmes feios e tristes, estes filmes gritados e desesperados onde nem sempre a razão falou mais alto – que a fome não será curada pelos planejamentos de gabinete(..). Assim, somente uma cultura da fome, mirando suas próprias estruturas, pode superar-se qualitativamente: e a mais nobre manifestação cultural da fome é a violência. (..)
Pelo cinema novo: o comportamento exato de um faminto é a violência, e a violência de um faminto não é primitivismo. Fabiano é primitivo? Antão é primitivo? Corisco é primitivo? A mulher de Porto das caixas é primitiva?
Do cinema novo: uma estética da violência antes de ser primitiva é revolucionária, eis aí o ponto inicial para que o colonizador compreenda a existência do colonizado; somente conscientizando sua possibilidade única, a violência, o colonizador pode compreender, pelo horror, a força da cultura que ele explora. Enquanto não ergue as armas o colonizado é um escravo: foi preciso um primeiro policial morto para que o francês percebesse um argelino.
De uma moral: essa violência, contudo, não está incorporada ao ódio, como também não diríamos que está ligada ao velho humanismo colonizador. O amor que esta violência encerra é tão brutal quanto a própria violência, porque não é um amor de complacência ou de contemplação mas de um amor de ação e transformação.(...)
Já passou o tempo em que o cinema novo precisava explicar-se para existir: o cinema novo necessita processar-se para que se explique à medida que nossa realidade seja mais discernível à luz de pensamentos que não estejam debilitados ou delirantes pela fome. O cinema novo não pode desenvolver-se efetivamente enquanto permanecer marginal ao processo econômico e cultural do continente latino-americano; além do mais, porque o cinema novo é um fenômeno dos povos colonizados e não uma entidade privilegiada do Brasil: onde houver um cineasta disposto a filmar a verdade e a enfrentar os padrões hipócritas e policialesco da censura, aí haverá um germe vivo do cinema novo. Onde houver um cineasta disposto a enfrentar o comercialismo, a exploração, a pornografia, o tecnicismo, aí haverá um germe do cinema novo. Onde houver um cineasta, de qualquer idade ou de qualquer procedência, pronto a pôr seu cinema e sua profissão a serviço das causas importantes de seu tempo, aí haverá um germe do cinema novo. A definição é esta e por esta definição o cinema novo se marginaliza da indústria porque o compromisso do cinema industrial é com a mentira e com a exploração. A integração econômica e industrial do cinema novo depende da liberdade da América Latina. (...)
Não temos por isso maiores pontos de contato com o cinema mundial.
O cinema novo é um projeto que se realiza na política da fome, e sofre, por isto mesmo, todas as fraquezas conseqüentes de sua existência.
Glauber Rocha.
MANIFESTO MANGUE BEAT (Recife - 1992)
Caranguejos com Cérebro (Fred Zero Quatro - Mundo Livre S/A. - Mangue Beat) 1992
Mangue, o conceito.
Estuário. Parte terminal de rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra.
Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas
tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca
de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão
entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.
Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados
e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários
fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de
pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente
importantes dependem do alagadiço costeiro.
Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia
alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos
das donas-de-casa, para os cientistas são tidos como símbolos de
fertilidade, diversidade e riqueza.
Manguetown, a cidade
A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis
rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex) cidade
*maurícia* passou desordenadamente às custas do aterramento
indiscriminado e da destruição de seus manguezais.
Em contrapartida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de
*progresso*, que elevou a cidade ao posto de *metrópole* do Nordeste,
não tardou a revelar sua fragilidade.
Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história, para que os primeiros
sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos setenta.
Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada a permanência do
mito da *metrópole* só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de
miséria e caos urbano.
Mangue, a cena
Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é
preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o
coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido,
também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar
os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na
depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo,
deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar
um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade
nas veias do Recife.
Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da
cidade um núcleo de pesquisa e produção de ideias pop. O objetivo era
engendrar um *circuito energético*, capaz de conectar as boas vibrações
dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem
símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.
Hoje, Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hiphop,
colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos
(principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro,
rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos,
midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química
aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.
Bastaram poucos anos para os produtos da fábrica mangue invadirem o
Recife e começarem a se espalhar pelos quatro cantos do mundo. A
descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem
bandas. No rastro dela, surgiram programas de rádio, desfiles de moda,
vídeo clipes, filmes e muito mais. Pouco a pouco, as artérias vão sendo
desbloqueadas e o sangue volta a circular pelas veias da Manguetown.
EL PORTUNHOL Y EL PORTUNHOL SELVAGEM (Douglas Diegues - Paraguai/Brasil 2007)
EL PORTUNHOL Y EL PORTUNHOL SELVAGEM (1)
Comienzo hoje a postar aqui algumas notas sobre lo que pienso sobre o meu portunhol, que es el portunhol selvagem, que non é meramente u “brasiguaio da frontera Brasil/Paraguay”, pero que usa como fuente la fala de las pessoas simples que habitam la frontera onde fui criado. Myriam Ávila escrebeu um texto sobre mios sonetos selvagens que me alegrou bastante e me transmitiu inspirazione para avanzar sem temores y sem pretensiones por la selva da literatura contemporânea. Y lo que primeiramente quero anotar es que el portunhol selvagem para mim non es uma "fórmula", pero um camino que vai se haziendo en la medida que sigo avanzando. Porque non escrevo para el mercado. sea el de las librerías ou de los libros para el vestibular. Já publiquei dois livros em portunhol. Livros de sonetos selvagens. "Dá Gusto Andar Desnudo Por Estas Selvas" (Travessa dos Editores, Curitiba, 2002) e "Uma Flor Na Solapa Da Miséria" (Eloisa Cartonera, Buenos Aires, 2005). Dizem que fue el primeiro livro de poesia em portunhol. Mas isso non quer dizer nada. Y tengo dois livros inéditos, "La última cumbia de la calle última" (Nouvelle) y "El Astronauta Paraguayo" (Nouvelle em bersos), que quero publicar ainda neste semestre. Pero por qué insisto em escrever em portunhol selvagem? Porque aos meus olhos y ouvidos mio português ofiziale continua me parecendo uma língua falsa, impostada, parnasiana, normal, fingida, esclerosada. Sobretudo esclerosada. Entom escrever em portunhol selvagem me parece também um camino interessante para subvertir la esclerosis del português literário que se puede encontrar en la mayoria de las narrativas y poemários que circulam pelo circuito del mercado editorial nazional. La lengua esclerosada tiene como base el Português Oficial, normal y normatizado, la lengua nacional patrocinada por lo Estado y ensinada diariamente en las escuelas brasileiras. Mucha dessa esclerosis de la lengua puede ser verificada também en las novelas de televisão y en las páginas escritas que circulam no mundo virtual (blogs, sites, notiziêros, etc), enfim, na linguagem utilitária y bien comportada que non encanta mais. Claro que se puede desesclerosar el português oficial desde lo próprio português pau-brasil. Claro que se puede poner el português oficial de cabeza pra baixo. Mas lo que noto é que muitos autores bem editados continuam a escrever em português oficial como si el objetivo mayor sea mismo ser aceptado pela Academia com los aplausos e las resenhas consagradoras de los professores, mestres y doctores. El português oficial é uma língua bancada pelo Estado. Y escrever passivamente nessa língua oficial sempre me pareceu um ato de Subserviência à língua como Estado, à escrita como instrumento de Poder e Dominação. É nessa língua que as crianças vienen siendo domesticadas. Já mio portunhol selvagem, mais do que língua de “resistência”, me parece uma língua de subverzione a la norma oficial com tutela del Estado. Pero isso non quere dizer que basta escrever em portunhol para resolver o problema da subserviência ou para se fazer boa literatura. Literatura, arte, música, é vida. Es vida ou non es puerra ninguma. El portunhol selvagem também es vida ou non es puerra nenhuma. Non basta pegar um huevo e adornarlo com portunhol e guarani. O portunhol selvagem é um procedimento. Uma maneira de escrever. Um modo de ser de uma certa escrita. E non quer dizer também que seja único. O portunhol dum Wilson Bueno em Mar Paraguayo ou nas novelas que ele vem escrevendo, non tem nada a ver com o meu portunhol selvagem. O portunhol do Bueno é uma onda barroquista, com frases confeitadas y palabras que surgem com las unhas pintadas de vermelho. O meu portunhol non tem enfeite, non é barroco, nim tiene palabras com las unhas pintadas de bermelho. Son duas ondas diferentes. O que me interessou em Mar Paraguayo foi muito mais o procedimento do que o resultado. O enredo me parece frustrado e zombetêro, uma Velha sem graça se justificando o tempo todo que non foi ela quem matou aquele Velho xarope e babom e aquele mitaruzú que vai y viene por la Playa de Guaratuba y enloquece a la velha de ganas de culear y ninguém ali nim pone huevo nim nada. Es un relato desencantado. Los personagens son como aranhas pelotudas que ficam enchendo linguíça durante umas 80 páginas. Mas há ali em Mar Paraguaio cosas muy verdadeiras, que non tienem nada que ver com el enredo, y que es lo que me interessa y me parece inovador. Mesmo porque em Mar Paraguaio o enredo é apenas um pretexto para que o portunhol possa existir. Isso tudo para deixar aqui anotado que nem eu y creo que nim o Bueno quiseram “inventar uma nova língua”. Yo por lo menos tengo claro que non quis inbentar uma “nova língua” e sim inbentar uma lengua própria, che portunhol selbagem, pessoal y intransferíbelle. Porque inbentar uma nova língua, inbentar uma nova norma, seria como matar o portunhol y toda la liberdade que pulsa viva nele. Porque el portunhol es free. Cada um lo puede inbentar como se le cante la bolilla. Non es uma língua-fórmula. É uma língua-risco. Uma língua subersiva. Uma rebeldia errante. Todo menos um procedimento literário subserviente a la oficialidade del Português ou del Espanhol. Uma língua sem apoio del Estado, del Ministério de Educacion, de la USP, de la ONU, de la NASA. Uma língua que non existe. Mas a la que puedo dar vida. Y por qué sigo escrebendo en portunhol selbagem? Porque non é dificil nem fácil, nem bueno nem malo, mas simplesmente porque me dá muito prazer escrever assim. Me alegra escrever assim. Es tudo lo que me sobra. Cada frase es um gozo. Cada frase me salva de la morte por clichê. Cada frase es uma recusa a escrever como um aluno bem comportado que aprendeu corretamente a língua que le ensinaram na Escola. Y também para mim es como volar em vez de caminar. Y es também como se eu tivesse fugido du Presídio da Língua Oficial para viver um caso de amor verdadeiro. E isso non tem nada que ver com uma Fórmula que eu descobri e agora la utilizo porque deu certo ou porque teve aceitação entre leitores de todas as partes. Sei que muita gente non leva a sério o portunhol. Cago e ando para eles. Podem ser dotôres da USP ou Manda-Chuvas da Imprensa. Pero sei que son personas que non se tocaram ainda que non conseguem deixar de levar a sério a Língua Oficial tutelada pelo Poder. Claro que um escritor deve ter domínio de la Lengua. Mas também non es esse domínio de la lengua que vai garantir que um texto tenha vigor de Selva Paraguaya. Y certamente son escritores que escrevem num português certinho, um português sem gosma íntima e sem chupetinha, um português falso atrás do qual eles camuflam toda a sua mesquinharia e seu desejo de Poder. Y certamente devem estar sendo bastante aplaudidos por seus professores de Português. E indicados para os vestibulares oficiais. Porque claro que los que escrevem num português corretíssimo, mesmo makakeando Manoel de Barros, van a tener mais aceitação nas Editoras do País do que um chongo que escreve num funkumbiêro portunholesko di frontera. Principalmente se tem papai influente en la máfia das Academias de Letras ou ocupa algum cargo importante numa Universidade qualquer. Sempre foi assim. Mas as coisas están mudando. Em matéria de literatura continua sendo difícil inventar uma voz própria. É mais fácil ecoar Drummond, Haroldo de Campos, Bandeira, João Cabral. Es mais fácil imitar o colega premiado do que fazer la kosa com la materia misma de las próprias bolas. Y com mio portunhol selbagem non busco mais que fazer la coisa com mis próprias bolas y mio próprio sangue em vez de imitar modelos yankis ou europeus ou kurepis bem sucedidos. Non se trata de continuar usando uma fórmula. Muita coisa pode ser feita em portunhol. Mas fazer las coisas em portunhol non é garantia de literatura viva. La vida es la energia que cada um põe antes das palabras. Non hay como disfarçar morte com vida. Outra coisa que quero anotar és que mio portunhol non es rebuscado, neobarroco, chururú. Es um portunhol bruto, escrito com sinceridade. Um portunhol verdadeiro sem papas en la lengua porongueante. Y non uma encenación, como bem notou y anotou Myriam Ávila. Tenho mais coisas para seguir anotando aqui. Mas ficará para depois. Quando de la presentación de mi primer libro, em Curitiba, Décio Pignatari perguntou quantos anos eu tinha y quando yo respondi 38, ele disse apenas “Faz rápido a tua obra”. Fiquei com aquilo en la cabeza. Ya he terminado dois livros neste final de ano, "La última cumbia de la calle última" y "El Astronauta Paraguayo". Y tô gostando del Astronauta Paraguayo. Outro dia fui fazer a impressão dos originais numa gráfica rápida. Quando disse ao rapaz que me atendia que um dos arquivos se chamava El Astronauta Paraguayo, ele começou a rir y eu achei aquilo legal. Porque parece que consegui enfiar nesse livro la energia de uma graça clown y triplefrontêra que se sente ya en el título. "El Astronauta Paraguayo"? Yes, beibi. Porque es isso mismo lo que agora quiero. Meter um pouco de vida clown y primitiba del carnabal chiriguano en um mundo cada vez mais sério y mais moderno y aburrido.
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EL PORTUNHOL Y EL PORTUNHOL SELVAGEM (2)
Na nota passada sobre el portunhol y el portunhol selbagem acho que non consegui dizer algumas coisas como me gustaría habérlas dicho. Non sei si lo voy a conseguir agora. Escrever bêbado di vida non es muito confiável. De vodka com limón mucho menos. Fico sincero demais. Non deixo o texto esfriar na gaveta. Escribo como um Pibe Chorro. Mia palabra chorrea. Jorra. Espermátika. Escrevo sem parar en el calor del momento. Non fico retocando. Depois ponho aqui neste blógui que me custa dois real a hora numa Lan fronteriza. Mas aprendi com u grande escritor Washington Cucurto (uno de los fundadores de la Editorial Eloisa Cartonera junto a Javier Barilaro), que es lindo também assumir los defectos, los errores, las bolasfuera, las mankadas. Y acho que fui apressado e injusto com el compa Wilson Bueno, que es un verdadero maestro del verbo hechizero sin favorzito ou propaganda idiota. Yo disse que el relato en Mar Paraguayo era fracassado. Pero me parece que faltou completar que isso de ser relato Fracassado tambiém es lindo en el Mercado de los Sucessos de La Literatura y tambiém me lo hace leer a Mar Paraguayo como um Papiro Raro de la Literatura del siglo XXI. Pero non disse tambiém que o Portunhol-Avá-Ñee de Wilson Bueno mismo sendo uma escrita barroca, com frases com unhas pintadas de bermelho, es una escrita sofisticada, uma escrita Além du Bem y du Mal, de un escribaoriginal, de um gênio Fora du Eixo, que sempre surpreende com sus koisas y kosas escritas com la miel y la leche de su próprio corazom. Y lo lindo tambiém es como una Marafona paraguajíssima, que delira como uma Metranka com Concha disparando sem parar su Portunhol-Avá-Ñee, que nunca se cansa de chorrear palabras como Catarata del Yguazú, me puede Encantar por mais de 80 páginas. Sei que tem gente inteligente que non gosta du Mar Paraguayo. Li críticas bobitas escritas por gente inteligente na Imprensa Nacional. Pero tengo que dizer que mi Amor por Mar Paraguayo es Sincero y sin el maestro Bueno y su Mambo Guaranhol yo jamais talvez escrevesse sonetos selbajens nim El Astronauta Paraguayo (inédito) y nim La Última Cumbia de la Calle Última (inédito). Los personagens puedem ser unos boludos. Pero son boludos originales y selbajens y carnabalescos y fantasmagóricos y hay que aceptárlos como son. Pero lo que também me gusta mucho en Mar Paraguayo es quando como en um teatro Nô u grande Wilson Bueno veste la máscara chiriguana de la Marafona y dice cosas de um frescor renovador y una sabedoria hecha de Amor Azul por la Palabra y por las Lenguas. Pero às vezes la Marafona me cansa, me aburre, me parece lamentosa, me parece el ditador paraguayo Alfredo Stroessner disfarçado de Vieja en la soledad del Exílio de Guaratuba, cidade litorânea paranaense onde di fato el ditador morou um tempo y cuyas playas en los veranos se llenam de paraguayos tomando tererês que hacem de la ciudad um verdadero Mar guarango, porque como todos sabem, Paraguay non tem Mar, y que serviu de inspiração para Bueno escrever Mar Paraguaio. Gostaria de anotar também que Mar Paraguayo deve muito também a Jorge Kanese, Augusto Roa Bastos, Fábio Campana, Helio Vera, entre outros escritores y paraguayólogos que lhe regalaram el guarangas inpiraziones de la inspiracione selbagem para que ele escrevesse essa novela. Bueno es un inbentor de procedimentos. Es uno de los escribas mais antenados del País. Editou aquela jóia rara que foi o premiadíssimo Nicolau. E me parece que é um dos vários talentos vivos que a Imprensa Nacional non sabe aproveitar legal. Outro dia vi ele sendo entrevistado num programa da Globo News. Se notaba que o repórter era muito querido. Mas non tinha muita intimidade com las obras do Compa. Mesmo assim foi legal. Pena que la conversa non foi muito longa. Y nim tan espontânea como aquele Roda Viva MS que fizemos com o Bueno em Campo Grande, onde o escritor falou por mais de uma hora y finalizou dizendo um lance que eu nunca esqueci e que era mais ou menos que o lance dele era Iluminar o Silêncio com Palavras. Agora imaginem se fosse um Lorenzo Garcia Vega entrevistando o Wilson Bueno? Seria uma Cumbia Imperdible. Porque em Avá-portunhol ou em qualquer Português brasileiríssimo, Wilson Bueno, a cada nuebo libro, es una sorpreza llena de vida y sangre de suo mismo corazom. Y estou feliz também porque el Compa Bueno está escrevendo nobelas en su imperdible Guaranhol. Uma de essas nobelas ya fue publicada en la rebista Tsé-Tsé hecha por los queridíssimos amigos Gabriela y Reynaldo Jiménez en Buenos Aires. Em breve poderemos leer mais coisas do Bueno en Guaranhol. Y todas terão sua marca inconfundíbel. Y de Wilson Bueno tambiém yo y u Cristian de Nápoli fizemos uma linda traducción al Idioma de Los Argentinos do belíssimo Chuvosos, para a editora Eloisa Cartonera, y que foi um sucesso di vendas na Bienal das Artes 2006 de Sampa. A versão original de Chuvosos pode ser lida também no Cronopinhos, site www.cronópios.com.br, que é feito por grandes figuras humanas que son Edson Cruz y Adrienne Myrtes y Pipol entre outros que estão salvando la Pátria de la Literatura Contemporânea Brasileira. Enfim. Non vou pedir desculpas ao Bueno pelas coisas que yo anotei pela metade sobre o nosso Mar Paraguayo. Este livro para mim sempre será um Papiro Raro (com todos sus defeitos y sorprezas perfectas) escrito por um despretensioso y humano y generoso e imenso Poeta que para mim será sempre el hermano mais antigo y el mais sabido y el inolvidábel maestro de la Noche Triplefrontera.
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Acesse mais no site:
http://portunholselvagem.blogspot.com/
Comienzo hoje a postar aqui algumas notas sobre lo que pienso sobre o meu portunhol, que es el portunhol selvagem, que non é meramente u “brasiguaio da frontera Brasil/Paraguay”, pero que usa como fuente la fala de las pessoas simples que habitam la frontera onde fui criado. Myriam Ávila escrebeu um texto sobre mios sonetos selvagens que me alegrou bastante e me transmitiu inspirazione para avanzar sem temores y sem pretensiones por la selva da literatura contemporânea. Y lo que primeiramente quero anotar es que el portunhol selvagem para mim non es uma "fórmula", pero um camino que vai se haziendo en la medida que sigo avanzando. Porque non escrevo para el mercado. sea el de las librerías ou de los libros para el vestibular. Já publiquei dois livros em portunhol. Livros de sonetos selvagens. "Dá Gusto Andar Desnudo Por Estas Selvas" (Travessa dos Editores, Curitiba, 2002) e "Uma Flor Na Solapa Da Miséria" (Eloisa Cartonera, Buenos Aires, 2005). Dizem que fue el primeiro livro de poesia em portunhol. Mas isso non quer dizer nada. Y tengo dois livros inéditos, "La última cumbia de la calle última" (Nouvelle) y "El Astronauta Paraguayo" (Nouvelle em bersos), que quero publicar ainda neste semestre. Pero por qué insisto em escrever em portunhol selvagem? Porque aos meus olhos y ouvidos mio português ofiziale continua me parecendo uma língua falsa, impostada, parnasiana, normal, fingida, esclerosada. Sobretudo esclerosada. Entom escrever em portunhol selvagem me parece também um camino interessante para subvertir la esclerosis del português literário que se puede encontrar en la mayoria de las narrativas y poemários que circulam pelo circuito del mercado editorial nazional. La lengua esclerosada tiene como base el Português Oficial, normal y normatizado, la lengua nacional patrocinada por lo Estado y ensinada diariamente en las escuelas brasileiras. Mucha dessa esclerosis de la lengua puede ser verificada também en las novelas de televisão y en las páginas escritas que circulam no mundo virtual (blogs, sites, notiziêros, etc), enfim, na linguagem utilitária y bien comportada que non encanta mais. Claro que se puede desesclerosar el português oficial desde lo próprio português pau-brasil. Claro que se puede poner el português oficial de cabeza pra baixo. Mas lo que noto é que muitos autores bem editados continuam a escrever em português oficial como si el objetivo mayor sea mismo ser aceptado pela Academia com los aplausos e las resenhas consagradoras de los professores, mestres y doctores. El português oficial é uma língua bancada pelo Estado. Y escrever passivamente nessa língua oficial sempre me pareceu um ato de Subserviência à língua como Estado, à escrita como instrumento de Poder e Dominação. É nessa língua que as crianças vienen siendo domesticadas. Já mio portunhol selvagem, mais do que língua de “resistência”, me parece uma língua de subverzione a la norma oficial com tutela del Estado. Pero isso non quere dizer que basta escrever em portunhol para resolver o problema da subserviência ou para se fazer boa literatura. Literatura, arte, música, é vida. Es vida ou non es puerra ninguma. El portunhol selvagem também es vida ou non es puerra nenhuma. Non basta pegar um huevo e adornarlo com portunhol e guarani. O portunhol selvagem é um procedimento. Uma maneira de escrever. Um modo de ser de uma certa escrita. E non quer dizer também que seja único. O portunhol dum Wilson Bueno em Mar Paraguayo ou nas novelas que ele vem escrevendo, non tem nada a ver com o meu portunhol selvagem. O portunhol do Bueno é uma onda barroquista, com frases confeitadas y palabras que surgem com las unhas pintadas de vermelho. O meu portunhol non tem enfeite, non é barroco, nim tiene palabras com las unhas pintadas de bermelho. Son duas ondas diferentes. O que me interessou em Mar Paraguayo foi muito mais o procedimento do que o resultado. O enredo me parece frustrado e zombetêro, uma Velha sem graça se justificando o tempo todo que non foi ela quem matou aquele Velho xarope e babom e aquele mitaruzú que vai y viene por la Playa de Guaratuba y enloquece a la velha de ganas de culear y ninguém ali nim pone huevo nim nada. Es un relato desencantado. Los personagens son como aranhas pelotudas que ficam enchendo linguíça durante umas 80 páginas. Mas há ali em Mar Paraguaio cosas muy verdadeiras, que non tienem nada que ver com el enredo, y que es lo que me interessa y me parece inovador. Mesmo porque em Mar Paraguaio o enredo é apenas um pretexto para que o portunhol possa existir. Isso tudo para deixar aqui anotado que nem eu y creo que nim o Bueno quiseram “inventar uma nova língua”. Yo por lo menos tengo claro que non quis inbentar uma “nova língua” e sim inbentar uma lengua própria, che portunhol selbagem, pessoal y intransferíbelle. Porque inbentar uma nova língua, inbentar uma nova norma, seria como matar o portunhol y toda la liberdade que pulsa viva nele. Porque el portunhol es free. Cada um lo puede inbentar como se le cante la bolilla. Non es uma língua-fórmula. É uma língua-risco. Uma língua subersiva. Uma rebeldia errante. Todo menos um procedimento literário subserviente a la oficialidade del Português ou del Espanhol. Uma língua sem apoio del Estado, del Ministério de Educacion, de la USP, de la ONU, de la NASA. Uma língua que non existe. Mas a la que puedo dar vida. Y por qué sigo escrebendo en portunhol selbagem? Porque non é dificil nem fácil, nem bueno nem malo, mas simplesmente porque me dá muito prazer escrever assim. Me alegra escrever assim. Es tudo lo que me sobra. Cada frase es um gozo. Cada frase me salva de la morte por clichê. Cada frase es uma recusa a escrever como um aluno bem comportado que aprendeu corretamente a língua que le ensinaram na Escola. Y também para mim es como volar em vez de caminar. Y es também como se eu tivesse fugido du Presídio da Língua Oficial para viver um caso de amor verdadeiro. E isso non tem nada que ver com uma Fórmula que eu descobri e agora la utilizo porque deu certo ou porque teve aceitação entre leitores de todas as partes. Sei que muita gente non leva a sério o portunhol. Cago e ando para eles. Podem ser dotôres da USP ou Manda-Chuvas da Imprensa. Pero sei que son personas que non se tocaram ainda que non conseguem deixar de levar a sério a Língua Oficial tutelada pelo Poder. Claro que um escritor deve ter domínio de la Lengua. Mas também non es esse domínio de la lengua que vai garantir que um texto tenha vigor de Selva Paraguaya. Y certamente son escritores que escrevem num português certinho, um português sem gosma íntima e sem chupetinha, um português falso atrás do qual eles camuflam toda a sua mesquinharia e seu desejo de Poder. Y certamente devem estar sendo bastante aplaudidos por seus professores de Português. E indicados para os vestibulares oficiais. Porque claro que los que escrevem num português corretíssimo, mesmo makakeando Manoel de Barros, van a tener mais aceitação nas Editoras do País do que um chongo que escreve num funkumbiêro portunholesko di frontera. Principalmente se tem papai influente en la máfia das Academias de Letras ou ocupa algum cargo importante numa Universidade qualquer. Sempre foi assim. Mas as coisas están mudando. Em matéria de literatura continua sendo difícil inventar uma voz própria. É mais fácil ecoar Drummond, Haroldo de Campos, Bandeira, João Cabral. Es mais fácil imitar o colega premiado do que fazer la kosa com la materia misma de las próprias bolas. Y com mio portunhol selbagem non busco mais que fazer la coisa com mis próprias bolas y mio próprio sangue em vez de imitar modelos yankis ou europeus ou kurepis bem sucedidos. Non se trata de continuar usando uma fórmula. Muita coisa pode ser feita em portunhol. Mas fazer las coisas em portunhol non é garantia de literatura viva. La vida es la energia que cada um põe antes das palabras. Non hay como disfarçar morte com vida. Outra coisa que quero anotar és que mio portunhol non es rebuscado, neobarroco, chururú. Es um portunhol bruto, escrito com sinceridade. Um portunhol verdadeiro sem papas en la lengua porongueante. Y non uma encenación, como bem notou y anotou Myriam Ávila. Tenho mais coisas para seguir anotando aqui. Mas ficará para depois. Quando de la presentación de mi primer libro, em Curitiba, Décio Pignatari perguntou quantos anos eu tinha y quando yo respondi 38, ele disse apenas “Faz rápido a tua obra”. Fiquei com aquilo en la cabeza. Ya he terminado dois livros neste final de ano, "La última cumbia de la calle última" y "El Astronauta Paraguayo". Y tô gostando del Astronauta Paraguayo. Outro dia fui fazer a impressão dos originais numa gráfica rápida. Quando disse ao rapaz que me atendia que um dos arquivos se chamava El Astronauta Paraguayo, ele começou a rir y eu achei aquilo legal. Porque parece que consegui enfiar nesse livro la energia de uma graça clown y triplefrontêra que se sente ya en el título. "El Astronauta Paraguayo"? Yes, beibi. Porque es isso mismo lo que agora quiero. Meter um pouco de vida clown y primitiba del carnabal chiriguano en um mundo cada vez mais sério y mais moderno y aburrido.
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EL PORTUNHOL Y EL PORTUNHOL SELVAGEM (2)
Na nota passada sobre el portunhol y el portunhol selbagem acho que non consegui dizer algumas coisas como me gustaría habérlas dicho. Non sei si lo voy a conseguir agora. Escrever bêbado di vida non es muito confiável. De vodka com limón mucho menos. Fico sincero demais. Non deixo o texto esfriar na gaveta. Escribo como um Pibe Chorro. Mia palabra chorrea. Jorra. Espermátika. Escrevo sem parar en el calor del momento. Non fico retocando. Depois ponho aqui neste blógui que me custa dois real a hora numa Lan fronteriza. Mas aprendi com u grande escritor Washington Cucurto (uno de los fundadores de la Editorial Eloisa Cartonera junto a Javier Barilaro), que es lindo também assumir los defectos, los errores, las bolasfuera, las mankadas. Y acho que fui apressado e injusto com el compa Wilson Bueno, que es un verdadero maestro del verbo hechizero sin favorzito ou propaganda idiota. Yo disse que el relato en Mar Paraguayo era fracassado. Pero me parece que faltou completar que isso de ser relato Fracassado tambiém es lindo en el Mercado de los Sucessos de La Literatura y tambiém me lo hace leer a Mar Paraguayo como um Papiro Raro de la Literatura del siglo XXI. Pero non disse tambiém que o Portunhol-Avá-Ñee de Wilson Bueno mismo sendo uma escrita barroca, com frases com unhas pintadas de bermelho, es una escrita sofisticada, uma escrita Além du Bem y du Mal, de un escribaoriginal, de um gênio Fora du Eixo, que sempre surpreende com sus koisas y kosas escritas com la miel y la leche de su próprio corazom. Y lo lindo tambiém es como una Marafona paraguajíssima, que delira como uma Metranka com Concha disparando sem parar su Portunhol-Avá-Ñee, que nunca se cansa de chorrear palabras como Catarata del Yguazú, me puede Encantar por mais de 80 páginas. Sei que tem gente inteligente que non gosta du Mar Paraguayo. Li críticas bobitas escritas por gente inteligente na Imprensa Nacional. Pero tengo que dizer que mi Amor por Mar Paraguayo es Sincero y sin el maestro Bueno y su Mambo Guaranhol yo jamais talvez escrevesse sonetos selbajens nim El Astronauta Paraguayo (inédito) y nim La Última Cumbia de la Calle Última (inédito). Los personagens puedem ser unos boludos. Pero son boludos originales y selbajens y carnabalescos y fantasmagóricos y hay que aceptárlos como son. Pero lo que também me gusta mucho en Mar Paraguayo es quando como en um teatro Nô u grande Wilson Bueno veste la máscara chiriguana de la Marafona y dice cosas de um frescor renovador y una sabedoria hecha de Amor Azul por la Palabra y por las Lenguas. Pero às vezes la Marafona me cansa, me aburre, me parece lamentosa, me parece el ditador paraguayo Alfredo Stroessner disfarçado de Vieja en la soledad del Exílio de Guaratuba, cidade litorânea paranaense onde di fato el ditador morou um tempo y cuyas playas en los veranos se llenam de paraguayos tomando tererês que hacem de la ciudad um verdadero Mar guarango, porque como todos sabem, Paraguay non tem Mar, y que serviu de inspiração para Bueno escrever Mar Paraguaio. Gostaria de anotar também que Mar Paraguayo deve muito também a Jorge Kanese, Augusto Roa Bastos, Fábio Campana, Helio Vera, entre outros escritores y paraguayólogos que lhe regalaram el guarangas inpiraziones de la inspiracione selbagem para que ele escrevesse essa novela. Bueno es un inbentor de procedimentos. Es uno de los escribas mais antenados del País. Editou aquela jóia rara que foi o premiadíssimo Nicolau. E me parece que é um dos vários talentos vivos que a Imprensa Nacional non sabe aproveitar legal. Outro dia vi ele sendo entrevistado num programa da Globo News. Se notaba que o repórter era muito querido. Mas non tinha muita intimidade com las obras do Compa. Mesmo assim foi legal. Pena que la conversa non foi muito longa. Y nim tan espontânea como aquele Roda Viva MS que fizemos com o Bueno em Campo Grande, onde o escritor falou por mais de uma hora y finalizou dizendo um lance que eu nunca esqueci e que era mais ou menos que o lance dele era Iluminar o Silêncio com Palavras. Agora imaginem se fosse um Lorenzo Garcia Vega entrevistando o Wilson Bueno? Seria uma Cumbia Imperdible. Porque em Avá-portunhol ou em qualquer Português brasileiríssimo, Wilson Bueno, a cada nuebo libro, es una sorpreza llena de vida y sangre de suo mismo corazom. Y estou feliz também porque el Compa Bueno está escrevendo nobelas en su imperdible Guaranhol. Uma de essas nobelas ya fue publicada en la rebista Tsé-Tsé hecha por los queridíssimos amigos Gabriela y Reynaldo Jiménez en Buenos Aires. Em breve poderemos leer mais coisas do Bueno en Guaranhol. Y todas terão sua marca inconfundíbel. Y de Wilson Bueno tambiém yo y u Cristian de Nápoli fizemos uma linda traducción al Idioma de Los Argentinos do belíssimo Chuvosos, para a editora Eloisa Cartonera, y que foi um sucesso di vendas na Bienal das Artes 2006 de Sampa. A versão original de Chuvosos pode ser lida também no Cronopinhos, site www.cronópios.com.br, que é feito por grandes figuras humanas que son Edson Cruz y Adrienne Myrtes y Pipol entre outros que estão salvando la Pátria de la Literatura Contemporânea Brasileira. Enfim. Non vou pedir desculpas ao Bueno pelas coisas que yo anotei pela metade sobre o nosso Mar Paraguayo. Este livro para mim sempre será um Papiro Raro (com todos sus defeitos y sorprezas perfectas) escrito por um despretensioso y humano y generoso e imenso Poeta que para mim será sempre el hermano mais antigo y el mais sabido y el inolvidábel maestro de la Noche Triplefrontera.
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PÁGINA CANTEIRO DE OBRAS - MANO ZEU
Sempre que volto pra Foz escrevo um poema de retorno com o nome “Ainda Te Amo”...
Dos três últimos, dois deles narram a minha relação de amor e ódio com a cidade. Aquela velha contradição de receber desprezo e devolver amor... A terceira versão é de rompimento, uma canção de ódio, que também pode ser uma forma de amor... Odiar aquilo que te faz mal é amar o que te faz bem...
Segue abaixo o poema transformado em rap:
NÃO ME CHAME (pro seu centenário)
Não me chame não, não me chame
Não me chame não
Não me chame não, não me chame
Não me chame não,
Não me chame não
Para participar dessa festa
Dessa sua comemoração
Não me chame não,
Pra sentar na sua mesa
Pra provar do banquete da carnificina
Do seu drink de sangue da sua chacina
Não me chame não
Pois sou fruto da sua injustiça
Sou produto da sua segregação
Sou a face do caos em meio à beleza
Nesse poço de contradição
Sou a mancha no mapa, a cara a tapa
A vítima no chão
Estatística da violência
Dessa sua especulação
Sou o povo que nunca dormiu
Sou encosta, barranca de rio
Sou o povo sofrido, sou quem construiu
Fui o barro, o carro de mão, barrageiro
Fui obreiro nessa construção
Fui jogado, deixado de lado
Fui os sonhos rasgados
Sou saudade da terra, a pátria alagada
A memória que nadie apaga
Broto em sonhos e em pesadelos
Nossa sina, na cena, na saga
Nossa tribo resiste ao tempo
Nossos gritos, os ritos, os templos
Soy Hermano do lado de lá – ‘derassori chirá’
Soy memória Tupi Guarani, Kaiowá,
Caigangue, Xetá e Tupinambá
Os nativos expulsos da terra
Mas estamos pintados pra guerra
Não me chame pro seu centenário
Pra esse seu jantar sanguinário
Sou sertão, sou estância, oposto distancia
500 e tantos de resistência
Eu não vim de avião
Eu cheguei foi de navio negreiro
Faço parte de um povo guerreiro
Que foi sequestrado, foi escravizado, roubado
Sou favela, fui favelizado
Sou o que você nega, que esconde segrega
Que empurra pros cantos
Pra viver entre os ratos
O cadáver da remoção, que não teve outra opção
Que chega em bando com os contrabando
Comboio, desvio e contravenção
A muamba que tu fiscaliza
Aduana, cancela, baliza
Rodovia, BR, na contramão
Perseguindo nosso ganha pão
Não me chame não, não me chame
Não me chame não, não me chame
Não me chame não, não me chame
Não me chame não,
Lembro a ponte da inimizade
Do conflito, do atrito, do estado de sítio
Da barbárie não anunciada
Terrorismo de Estado, cilada
Do quartel general, da tortura
Da sua cúpula, sua ditadura
Somos sobreviventes
A lembrar nossos mortos
Nessa Foz cheia de sangue suga
Onde jorra o sangue
Onde rolam cabeças de gente inocente
Onde nasce os ninhos de serpente
Portanto
Não me chame, não me convide
Pois eu sou contraponto, eu sou o revide
Bumerangue que volta, a voz da revolta
Sem capanga ou jagunço, cheguei sem escolta
Hei!!! Capitão do mato,
não me inclua na pauta, na ata
Não me chame pra essa reunião
Pra sua urna, pra sua audiência
Sou sua negação, desobediência
Não preciso da sua rubrica
Sou matéria que o seu jornal não publica
Não sou público no seu espetáculo
Eu não paro no seu obstáculo
Sou quem quebra as regras, um fora da lei
Que não rende homenagens ao rei
Não me chame, não me inclua
Sou cultura de rua
Informal demais pra você
Não aceito mordaça, algema,
sou os braços que rema
Quem anda a pé, quem cultua a fé
Sou o V da vingança
Que não espera pela esperança, que age
O menino encima da laje
O dedo no gatilho, o rastilho de pólvora
Indigesto demais pro seu paladar
Sou aquele que vem pra cobrar
Não concordo com sua abordagem
Seu abuso, autoritarismo
Seu sorriso macabro, sinistro, o cinismo
Seu safári turismo
Não me chame não
Para participar dessa festa
Dessa sua comemoração
Não me chame não,
Pra sentar na sua mesa
Pra provar do banquete da carnificina
Do seu drink de sangue da sua chacina
Não me chame não
Sou a greve, a garra, a guerra, a trincheira, a fronteira, a selva de pedra
Tudo aquilo que você temia
O improvável, o impossível
Nosso centro é a periferia
O alimento não mais perecível
Somos sim o povão que trabalha
Que enriquece a sua família
Mas também sou quem vem pra cobrar
Pra fazer a nossa retomada
Pra brilhar numa nova alvorada
Somos filhos da revolução
Ouçam o som que vem dos tambores
As batidas que vem dos barracos
Balaiadas, canudos, farrapos
Dos malês, bantos, iorubas
Seu castelo foi feito de areia
E hoje somos as ondas do mar
Somos filhos de iemanjá
Somos filhos da revolução
Não me chame não...
(17-03-2014 - Ciudad Del Este Paraguay)
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Página Canteiro de Obras - Poesias do Mano Zeu:
https://www.facebook.com/poesiasmanozeu/
NÓS AMEFRIKANAS
Página do Coletivo Nós Amefrikanas - de Foz do Iguaçu, Pr.
https://www.facebook.com/ColetivoAmefrikanxs
Johnny Le Majeste - Haiti - álbum Rim Bla Flo (Foz do Iguaçu - 2017)
Album do hermano haitiano Johnny Le Majeste - Rim Ba Flo. O disco foi produzido por Dj Mano Zeu no Estudio Comunitário ECO. As músicas são em criolo e francês.
Baixe o álbum:
https://americalanegrahaiti.blogspot.com/2018/07/johnny-le-majeste-rim-ba-flo-haiti-2017.html
LIVRO 26 POETAS HOJE - HELOÍSA BUARQUE DE HOLLANDA (1975)
SINOPSE (Livraria da Travessa)
A antologia 26 Poetas Hoje marcou época ao apresentar a poesia marginal, trazendo, em plena vigência da censura, o testemunho da geração AI5 e sua dicção coloquial, irreverente e bem humorada.
Uma obra clássica para os interessados em poesia contemporânea, agora revista e já em terceira edição. Participam desta edição Ana Cristina César, Torquato Neto, Geraldo Carneiro, Waly Salomão, Chacal, Bernardo Vilhena, Capinan, entre outros.
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baixe o livro em PDF:
http://www.mediafire.com/file/o718xoujosmjn4u/26-Poetas.pdf/file
Heloisa Buarque de Hollanda - Coleção Tramas Urbanas, Editora Aeroplano (2010)
20 livros de literatura marginal/periférica com organização de Heloisa Buarque de Hollanda -disponível para dowmload no site:
https://www.heloisabuarquedehollanda.com.br/colecao-tramas-urbanas/
Se eu Tivesse meu Próprio Dicionário - Ni Brisant (São Paulo - 2014)
“Jardim:
Um filhote de floresta que ficou de castigo no quintal”.
AS MUITAS FACES DE UMA CIDADE - Documentário - Mano Zeu e Danilo Georges (Foz do Iguaçu - 2009)
Esse documentário produzido em 2009 propõe exibir numa perspectiva histórica, uma reflexão sobre as contradições de Foz do Iguaçu-PR, uma cidade que, ao mesmo tempo, ostenta belezas naturais e ignora seus problemas sociais.
As Muitas Faces de Uma cidade revela outra cidade a partir do olhar de moradores da periferia, trabalhadores informais, militantes, entre outros invisíveis sem espaço nos meios de comunicação convencionais.
Construindo assim uma perspectiva de sociedade que conflitam com a memória hegemônica da cidade. Pretende-se dessa forma exibir uma cidade a partir da experiência da classe trabalhadora empobrecida.
O documentário expõe a ausência de políticas públicas para cultura e inclusão social e a falta de infraestrutura nos bairros, além de revelar a marginalização da periferia por parte da grande mídia.
BIBLIOTECA COMUNITÁRIA CNI - CIDADE NOVA INFORMA
A Biblioteca Comunitária, Jornal e Centro Cultural foi formada em 2011 por moradores do bairro Cidade Nova, de Foz do Iguaçu. Trabalha pela melhoria da qualidade de vida dos moradores.
Visitem o site para conhecer nossas ações:
AREPA COLOMBIANA: RECEITA
Confira como fazer arepa, um pãozinho de milho delicioso típico da Colômbia.
As arepas são uma espécie de pão/bolo de milho muito conhecidos na Colômbia, normalmente servidas no café da manhã e no lanche da tarde. Elas pode ser recheadas com diversos ingredientes, como queijo, presunto, abacate, ovos mexidos, carne desfiada e muitos outros. A palavra arepa tem origem no termo erepa, que significa broa de milho em línguas indígenas da Colômbia e Venezuela. Ela tem formato de panqueca e sua massa é feita com farinha de milho pré-cozida ou pão de milho moído, podendo ser frita, assada, cozida no vapor, grelhada e até fervida. Que tal experimentar a arepa em casa? Nós vamos te ensinar uma versão feita com farinha de milho para polenta, que é pré-cozida.
Ingredientes da arepa colombiana
1 xícara de farinha de milho para polenta
1 xícara de mussarela ralada
2 colheres (sopa) de manteiga derretida
1 xícara de leite
50 g de manteiga
1 pitada de sal
100 g de queijo e presunto para rechear
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Modo de preparo:
Numa tigela, misture a farinha de milho, o queijo e o sal.
Acrescente o leite e a manteiga derretida e misture.
Deixe descansar por 5 minutos.
Molde a massa como se fosse fazer panquecas.
Unte uma frigideira antiaderente com manteiga e deixe em fogo médio.
Doure cada lado das arepas por 5 minutos.
Corte horizontalmente e recheie com queijo e presunto.
Coloque na frigideira novamente para derreter o recheio.
Sirva em seguida.
Na hora de rechear, use a imaginação: vale peito de peru, linguiça, frango desfiado com molho, queijos diversos, requeijão, tomate e o que mais você gostar!
FONTE:
https://blog.tudogostoso.com.br
SITE AMERICA LA NEGRA
Site com acervo de músicas de 27 páises da America Latina e Caribe. Disponível links para download das músicas e albuns.
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